terça-feira, 25 de agosto de 2009

Ao amigo...


Não que quisesse chorar...

Lágrimas necessitam de um motivo!

Meu silêncio te atraiu...

Eu estou sozinho!

Minha solidão vagueia sob as vagas que brotam do mar...

Compartamos nossa tristeza!

Não se sonha...

Objetividade pode ser anulada...

Viver por viver é apenas mais uma razão!

Carente de uma outra Essência.

Lançando ao vórtice pulsante do Ego uma esperança cega!

Venha, rasgue do peito a minha dor...

Ódio mórbido à celebrante fidelas ordis!

Te amar seria se surpreender a cada curva... do teu corpo...

- Poderia dar-te todo o meu Ego em troca!

- Não! Absolutamente... nada!

Não me venha com promessas esquecidas.

Meu desmazelo pode selar-me os neurônios à ti;

E ainda assim...:

"- Pode ser teu!"

sábado, 22 de agosto de 2009

O Pai Perdoa


Escute, filho; enquanto falo isto, você está deitado, dormindo, uma mãozinha embaixo do rosto, os cachinhos louros molhados de suor grudados na fronte. Entrei sozinho e sorrateiramente no seu quarto. Há poucos minutos atrás, enquanto eu estava sentado lendo meu jornal na biblioteca, fui assaltado por uma onda sufocante de remorso. E, sentindo-me culpado, vim para ficar ao lado de sua cama.

Andei pensando em algumas coisas, filho: tenho sido intransigente com você. Na hora em que se trocava para ir à escola ralhei com você por não enxugar o rosto direito com a toalha. Chamei-lhe a atenção por não ter limpado os sapatos. Gritei furioso com você por ter atirado alguns de seus pertences no chão.

Durante o café da manhã, também impliquei com algumas coisas. Você derramou o café fora da xícara. Não mastigou a comida. Pôs o cotovelo sobre a mesa. Passou manteiga demais no pão. E quando eu estava para pegar o trem e você estava brincando, você se virou, abanou a mão e disse: "Tchau, papai!" e eu, franzindo o cenho, em resposta eu lhe disse: "Endireite esses ombros!"

De tardezinha, tudo recomeçou. Voltei e quando cheguei perto de casa vi-o ajoelhado, jogando bolinha de gude. Suas meias estavam rasgadas. Humilhei-o diante de seus amigos fazendo-o entrar na minha frente. As meias são caras - se você as comprasse tomaria mais cuidado com elas! Imagine isso, filho, dito por um pai!

Mais tarde, quando eu lia na biblioteca, lembra-se de como me procurou, timidamente, uma espécie de mágoa impressa nos seus olhos? Quando afastei meu olhar do jornal, irritado com a interrupção, você parou à porta: "O que é que você quer?" perguntei implacável.

Você não disse nada, mas saiu correndo num ímpeto, na minha direção, passou seus braços em torno do meu pescoço e me beijou; seus braços foram se apertando com uma afeição pura que Deus fazia crescer em seu coração e que nenhuma indiferença conseguiria extirpar. A seguir retirou-se, subindo correndo os degraus da escada.

Bom, meu filho, não passou muito tempo e meus dedos se afrouxaram, o jornal escorregou por entre eles, e um medo terrível e nauseante tomou conta de mim. Que estava o hábito fazendo de mim? O hábito de ficar achando erros, de fazer reprimendas - era dessa maneira que eu o vinha recompensando por ser criança. Não que não o amasse; o fato é que eu esperava demais da juventude. Eu o avaliava pelos padrões da minha própria vida.

E havia tanto de bom, de belo e de verdadeiro no seu caráter. Seu coraçãozinho era tão grande que subia quanto o sol que subia por detrás das colinas. E isto eu percebi pelo seu gesto espontâneo de correr e de dar-me um beijo de boa noite. Nada mais me importa nesta noite, meu filho. Entrei na penumbra do seu quarto e ajoelhei-me, envergonhado!

É uma expiação inútil; sei que, se você estivesse acordado, não compreenderia essas coisas. Mas amanhã eu serei um papai de verdade! Serei seu amigo, sofrerei quando você sofrer, rirei quando você rir. Mordeirei minha língua quando palavras impacientes quiserem sair pela minha boca. Eu irei dizer e repetir, como se fosse um ritual: "-Ele é apenas um menino! Um menininho!"

Receio que o tenha visto até aqui como um homem feito. Mas, olhando-o, agora, filho, encolhido e amedrontado no seu ninho, certifico-me que é um bebê. Ainda ontem esteve nos braços de sua mãe, a cabeça deitada no ombro dela. Exigi muito de você, exigi muito.

Em lugar de condenar os outros, procuremos compreendê-los. Procuremos descobrir por que fazem que fazem. Essa atitude é muito mais benéfica e intrigante do que criticar; e gera simpatia, tolerância e bondade. "Conhecer tudo é perdoar tudo". Como disse o Dr. Johnson: "O próprio Eterno, o Senhor, não se propõe a julgar o homem até o final de seus dias." Por que o faríamos, você e eu?

quarta-feira, 19 de agosto de 2009


Não escrevo o que não vivi.
O que não vi.
O que não senti.
Escrevo pra me compor.
Pra me dispor.
Pra me sobrepor.
Não escrevo pra me distrair.
Às vezes, pode ser, até mesmo, pra me retrair!
Pra te mostrar quem sou...
Como sou...
Em que acredito...
Em quem penso ser...
Escrevo pra existir;
Nem que seja em uma folha em branco - que nada diz, até que nela eu escreva algo.
Nesta solidão, cada vez mais presente, um único ponto, em uma folha em branco, pode representar uma companhia que não quer me ter.
Quando em meio à tanta gente, não consigo parecer comigo mesmo, mascaro a convivência!
Ninguém há que saiba de mim, mais que aqueles que me lêem.
Alguém não pode compreender o meu ego, e sua força covarde, até entender o subliminar das letras.
Como me entendo!
É odioso se entender sozinho;
É lascinante ser só teu mesmo;
É uma edificação apenas com estrutura, incompleta, arestada, falha...
Dizia-me alguém, que aberturas me possibilitam o crescimento.
Não opto por crescer, e sim por ser...
Simplesmente ser...
Ao escrever, me sinto tão eu.
E isto me completa!
Na minha tristeza brande um sorriso;
Na minha solidão ressurge o calor de uma presença;
Nas sombras, delineio o horizonte.
Tudo por que o que não escrevo, nada representa, nada diz, nada prova e nada faz...
Por mim, e por aqueles que querem me conhecer...
O que não escrevo...
Não existe, no meu egoístico mundo pequenino!

Um novo desejo!


Eu que sempre "fui" da noite!
Apaixonado pelas sombras.
Amoroso com a escuridão.
Afastava-me do sol.
Escondia-me da luz!
Agora, vens tu, sentimento e me deixas sem o chão tão seguro que desenhei a nanquin!
Olha-me de soslaio o coração e implora por um raio do Esplendoroso Luminar!
Alça-me a mão e guia-me o rosto em direção ao infinito das possibilidades.
Como quisera eu poder atendê-los!
Como quisera eu acreditá-los!
Como quisera eu viver!
Desfrutar essa existência!
Banhar-me ao rio desse prazer.
O que me impede? Perguntas-me.
Eu mesmo. Respondo-te.
Por ser dado a ausência da claridade, não apercebi muito que me aconteceu.
Não vi a beleza dos sentimentos!
Não discerni a pureza do olhar!
Não acompanhei o galgar do coração por vales verdejantes.
Não pude presenciar o voejar gracioso das asas da felicidade.
Nem tive a chance de sorrir livremente.

segunda-feira, 10 de agosto de 2009


"..as dores da alma jamais serão caladas..."
Os rumores do coração não podem ser ouvidos.
As lágrimas, sempre, a rolar pela face, não podem ser compreendidas.
Aquele: “Você tem que ser forte!”, soa falsamente e não tem sentido algum. É o momento que mais queremos ser fracos e demonstrar que também sentimos...
As pessoas se aproximam no pior momento, e não conseguem compreender isto.
Estão cumprindo, para si mesmas, um superior gesto de caridade em um momento oportuno.
Mas apenas nós podemos o compreender enquanto inoportuno.
As esperanças morrem, aqui, em primeira ocasião.
Não se tornará a ouvir uma voz.
O toque não será mais sentido!
Não será mais refletida a nossa imagem naqueles olhos.
Os passos! Ah, aqueles que já dantes nos escondíamos de pavor, medo, em obediência cega e protetora.
Não sentiremos mais aquele hálito, a nos segredar aos ouvidos.
Aqueles olhares reprovadores, com um “NÃO” bem impresso.
Os gestos amistosos ou de reprovação.
Ah, perdemos metade da nossa condição de vida enquanto seres viventes.
E as pessoas, externas a tudo isto, julgam-se compreensivas.
Vêem nossas lágrimas e não conseguem ignorar, fingem tristeza.
Elas não sabem o que é isto.
E quando estamos a sós, a contemplar o céu, na noite pós sinistro?
Imaginam-nos tristes, ah, elas não sabem que o que dói, o que faz chorar não é tristeza!
É algo mais profundo e mais belo que isto, é a saudade de quem partiu e não retornará!
A ausência dos passos na sala depois de longa estadia em viagem.
O barulho do carro entrando na garagem, depois de tanta espera.
A chegada que nunca mais será assistida.
A ausência que será sempre notada.



À memória

Elizabeth McDowell
*14/05/1928
+22/08/2008
Descanse em paz!

Palavras


Quem acredita nelas?
Que as pronuncia verdadeiramente?
Quem as usa para o bem?
Quem não as usa com a intenção de ferir, maltratar, extinguir?
Palavras não dizem nada!
São falaciosas e inoperantes.
Nada representam!
Humanos usam muitas:
para enganar;
para matar;
para ferir;
para denegrir.
Para as palavras nunca há um ponto final.
Mas elas se traem.
Em um dado momento, elas deixam de ser importantes.
Os gestos as derrubam.
As dertupam e elas tornam-se sem valor.
Tornam-se desacreditadas.
Palavras!
Penso muito bem antes que alguma saia da minha boca.
Pois para lá elas não tornam.
E nem me arrependo de tê-las dito.
E, talvez por isto, o silêncio seja o meu amante incolúme!