sexta-feira, 17 de dezembro de 2010


Os choro dos gêmeos se ouve no amanhecer.
Vida dissoluta e aprazível.
Seu choro põe as amas em riste.
Perversa competição!

(- Não preocupa-te tanto: Há que um viva!)

Choram os gêmeos ao adolescer.
Pragas alquebradas.
Poesia vazia, não sabem escrever.
Desvairada vivacidade!

O moço mira-se ao espelho.
Fria superfície maltrata sua existência.

("-Não há gigantes. Até mesmo os fortes caem!")

Debilidade vencida.
Fealdade prescrita.
Medo trancafiado a sete chaves no Baú do Silêncio!

Sai o lobo ao luar:
Brinda-lhe os homens ao seu uivo.
Existência suprimida de vida!

Alcatéia dilacerada.
Perdão aviltado por chaga mortal.
Luar esplêndido a banhar-lhe as lágrimas.

A maldição quebrada jaz.

("Há que um viva!")

Os gêmeos o deixaram de ser sacrificialmente!
A morte fora enganada.
A vida fora tragada!
Prêmio ao vencedor: morte homérica jamais esquecida!

"R.I.P. Dannie loved brother, loved son, loved friend!"

terça-feira, 14 de dezembro de 2010

A moreninha


Com aquele seu jeito tresloucado de andar, se balouçando entre as paineiras, Joana voltava da fonte, com um tanto de roupa lavada em cima da rodilha.
 Por trás de si ia deixando um cheiro de limpo, e todos paravam seus afazeres para a ver.
 Havia que uns 12 pra 13 anos que por lá se deixava. Ninguém sabia ao certo de onde viera, por certo mais uma mestiça fugida dalguma senzala.
 Era vistosa de se ver. Cabelos longos e levemente volumosos aos cachos, olhos grandes e amendoados, pernas perfeitas de quem as usava na labuta. Seu rosto tinha um que de medo, sofreguidão, aparente a quem falta paz n'alma.
 Morava numa casinha de paina a beira da tolé. E por lá não se via macho acabrunhado. Elas os tocava na menor faina. Era respeitosa, apesar de simples e humilde lavadeira.
 Pois bem, voltanto a cena dagora, ela levava um pá de roupas à rodilha e a água da roupa recém lavada recendendo a limpeza ia-lhe caindo por sobre os ombros e escorrendo caminho à terra.
 Naquele rés de chão isto era um despropósito! Se era! As beatas ao lha verem passar benziam-se repetidamente e chilreavam um "credo em cruzes". Mas nem te ligo! Ela ia muito prazenteira em frente, balouçando seus quadris milimetricamente desenhados, a deixar os machos do local com os queixos por si.
 Eram três os dias da semana em que a viam ali passar. E em todos esses dias, ela não lhos dava o olhar sequer. Ia segura, com sua meia saia presa ao cós, balouçando suas carnes tal uma passista da Conjuração.
 Já por aqueles dias, tinha torcido o tornozelo, mas, qual nada, ainda assim, descera a fonte a fim de cumprir o ritual que se propunha e ganhar o seu sustento.
 Brio. Uma palavra que definia o trabalho, a vida e o caráter da Moreninha dos Alfaiates, pois que lhos trazia sempre o tecido limpo após lhes deixar o beque uma poeira só.
 Pena mesmo, o dia em que desapareceu. Foi-se por esses cafundós sem deixar rastros.
 Quebrara-se a harmonia do arraial.
 Sumira-se a moreninha!

Zu ewigkeit!

Bellum Patriae!

Há uma guerra de vencidos, no âmago meu.
O calor humano, importante, já não se faz mais.
Beijos insanos em troca de lamentos.

As folhas caem do outro lado da janela.
Desfazem-se de laços!
Eclodem-se, em fúria, frutos de tarântulas.
Cadenciadamente batem suas asas, as aves em retirada.

As luzes de postes, nas ruas, iluminam círculos perimetrais.
Absortos em suas preocupações, afagando o movimento da vida, os homens correm de um lado ao outro.
Os cabelos dos amantes são oscilados por uma brisa em promessa.
Conduzem ao esquecimento, seus beijos ternos.
Carícias afáveis detonam um mundo de hormonais sensações.

No interior, guerra!
Ó, homem! Não dá-se a entender!
Lamento-me pela crueldade do beijo em flor!
Há quem não queira viver a vida?

Aqui dentro (em guerra) há um coração sorvido pela dor.
Ânsias não premeditadas por um enlace.
Sonhos que se perfazem, a anos-luz, para, logo em seguida, serem lançados ao abismo da realidade.
Não há tempo...
Há guerra!

No vão da minha tola sabedoria ocorrem-me os pensamentos.
Por tais veias insone trêmula rápido o meu sangue.
Ocre é o sabor que conhecia até agora.

Provocam-me desprezo as cores que eu julgava ver (si non habet caritatem).
Quem é você, não sei (non dico ipse!)
O que você seria, a vida não me deu o direito de saber (fili mortuus).
Abrandavam-me o coração suas confidências (lacrimae clamor desperates).
Cortesia à minha dúvida me deram certeza (aliqis infamis).
SIM! Caminhar só é meu destino (pro peccatus poenitentiam).
Lentamente no meu deserto (target vacua et humilies)

Há, sim, uma guerra no meu interior!
(Est potius bellum patriae!)


Zu ewigkeit!

sexta-feira, 10 de dezembro de 2010

Quando eu ouvir meu NÃO!

Ainda não ouvi meu músculo pensante dizer um não e voltar atrás...
(Exceto por interferência daquele que pulsa!)

Hoje destaco-me do "mundo",
Não mais serei refém de dissabores...
Não mais me provarei em desamores;
Serei apenas Eu!

Não mais sentirei dor
Não mais verterei gotículas salutares
Não mais viverei
Não mais serei refém de mim mesmo!

O ouvido se cerra a várias ações.
O tato nem sequer pode ser ouvido.
"Pérolas aos porcos", diriam-me então...

Talvez se eu tivesse ouvido
Talvez se eu tivesse enganado
Titubeado ou mentido...

Maldita seja a verdade que me aprisiona
Maldito seja o horror da noite em que nasci
Maldição de mentira tem sido o nascer do sol
Uma bênção a cada dia mais ausente...

Uma música sem autor
Uma nota sem tom
Uma letra ao que não sabe ler...

Vida tola e dissecada de sonhos que jamais se miram
Morte esperada e atroz demais para ser compartida
Fragmentos de mim que não negativam
O tudo no todo em vão se dissolve!

E ninguém me ouve...
O clamor intenso de uma anima
O rumor sóbrio de um pulse tangite
Ninguém me acredita o NÃO!

segunda-feira, 6 de dezembro de 2010

Incontinência

Incontinência insana, meu viver
Qual ave que, perdido o bando, voa sem rumo.

Louco.
Triste!

Espinhos da morte são-me uma ponte para a vida!
Não há verdade que se queira ver!

Um temporal, antes, noite claria...
Inverno, antes, primavera em cores e odores...
Coração dilacerado por uma vida insípida...
Flor sem vida, vaso sem água...

Alma errante na escuridão!
Há verdade que se queira ver?

Incontinência insana, meu morrer.
Navios, leme podre ao mar.

Tristeza.
Insanidade!

A vida é-me um espinho agudo tragado das garras da morte.
Por aqueles que me amam ao me prender!