domingo, 14 de fevereiro de 2010

Experiências

Eu prometi tentar.
Eu o fiz.

O progenitor do menino morto provou-me não haver amor.
Eu tentei provar o contrário.
Sua mãe provara-me que as lágrimas, tal qual chuva temporã, lavam a alma.
Eu tentei banhar-me em um oceano de dúvidas.

O sentimento imerecido raio no horizonte.
Eu tentei merecê-lo.

A distância e a paciência apresentaram-se invencíveis.
Eu, ainda assim, tentei vencê-los.

O perdão alargou-se incompatível.
Eu tentei igualá-lo.

A virtude dissoluta expôs suas garras cruéis.
Eu tentei não sentir dor.

Um escudo fosco demonstrou-se como melhor opção.
Eu tentei inutilizá-lo.

A paixão, qual revoada de gaivotas sobre as ondas do mar, tentou aplacar a razão.
Eu tentei agir racionalmente.

Fiquei cego.
Tornei-me surdo.
Fiz-me "o" mudo.
Inundou o meu deserto, a sede.
Purificou a árvore pagã, o raio.

Subliminar, pleno, intátil.
Volúvel.

Tentativas inúteis.

Experiência escrita nos pergaminhos de Al-Aqsa.

Verdade tola demais para ser creditada.

Vida inútil demais para ser preservada.

Solidão amante demais...

para ser descartada!


Zu ewigkeit!

terça-feira, 9 de fevereiro de 2010

"Gaudium et nom felicitas"


As palmas se encontravam vigorosamente ante à marcha rumo à morte.

As vaias denotavam a aproximação da forca.

Cada passo na subida da escada era como um segredo desvendado.

O riso zombeteiro ribombava nas colinas enquanto a corda era posta envolta ao pescoço.

O olhar ansiava pela queda do corpo pela abertura do cadafalso.

Mãos se apertavam a cada suspiro espásmico do corpo esvaindo-se em vida.

"Lágrimas e versos provinham de corações bondosos!"

Despojos lançados ao cadáver eram o prêmio por sua traição.

Ao cair o corpo ao solo, sem vida, a turba diluía-se.

- Terminara mais um espetáculo!

A "humanidade" destruía a sí mesma por não conceber o perdão.

O homem (que) se julgava senhor de toda a sabedoria.

O morto repousava (agora) indigente.

A morte reinava prazerosa em meio à vida - aguilhão em riste.

Mansidão?
Mutila-se o fraco!

Justiça?
Oprime-se o pobre!

Clemência comprada por trinta moedas de igual valor em uma praça fétida.

Onde está o amor?
Impropérios à inocência!

Os habitantes do abismo não conhecem o sentimento.

A casa da perversidade tem na alma o seu próprio veneno.

"O coração bondoso derrama-se em lágrimas ante o abandono!"

Ei-lo em sua lápide:

...



Zu ewigkeit!

- O grifo refere-se à letra da música Gaudium, da banda alemã de gothic poet metal Krypteria, faz parte do álbum Liberatio, lançado em meados de 2003.

segunda-feira, 8 de fevereiro de 2010

Conteúdo Volátil!

O Astro-Rei vem despertando o Planeta!
Chegada é a hora do meu repouso.
Um horizonte multicores se apresenta ante o velho homem - cansado de mais pra viver!
O menino tolo é daltônico;

O mar calmo encena uma vida misteriosa!
A juventude gaudia-se à areia.
As lites pontiagudas emergem das entranhas da terra árida - demonstrando a força do seu existir!
As mulheres usam-nas para lançarem de si os seus despojos;

As árvores perdem-se em folhas verdejantes!
Uma mudança refaz o tempo.
As nimbus descarregam-se de suas águas - força que perde a consistência!
A criança busca refúgio junto aos ratos;

As flores desabrocham em Mil chamas!
Missivas partem sem destino.
A sabedoria é requerida pelos jovens que não a despojam - dera eu a vida em torno dela!
A idade esconde-se atrás do medo;

O Sol e a chuva: o que se doa é covarde.
As flores e os espinhos: o medroso bate em fuga.
Sem cor, o colorido: a permanência implica em morte.

Antagonismos não explicáveis.
Verdades mentirosas balbuciadas numa noite quente de inverno.
Mentiras verdadeiras apregoadas a sombra da cruz.

E morre mais um poeta sem rima!

quinta-feira, 4 de fevereiro de 2010

O tinteiro...

Não pedi pra nascer.
Não quis sonhar.
Não desejei aprender a amar.

Apenas quisera ser igual.
Apenas quisera o experimento da entrega.
Apenas quisera sentir-me parte de um todo não divisível.

A solidão fora companheira de mais.
A vida insípida não se deixava passar.
O rancor guardado infundava a vivência.

Ansiava por companhias magistrais.
Ansiava pelo pulsar de um coração ardente.
Ansiava pelo perdão que não poderia ser doado.

A história não parecia ter fim.
Três supulcros se alinhavam descobertos.
Perdas que se assomavam ao dissabor vil da existência.

Esperava por paciência.
Esperava pelo fim de uma busca.
Esperava por encontrar um sentido real.

Hades!
Se'ol!
Ge'ena...

Animais em volúpia.
Desejos corpóreos.
Lar não alcançado.

A primeira página se abre.
A contra-capa tremula.
O "FIM" é divisível adiante.

Livro escrito na carne da pele.
Letras garrafais comoventes.
Vazio inerrante ao miserável e analfabeto ladrão.

Um livro em branco.
Uma rosa negra.
Um tinteiro transbordante.

Letras não fazem sentido ao iletrado.
Aromas não podem fazer diferença aos que não os sentem.
O tinteiro incólume.

Um depositário infiel do líquido que escreve meu destino.
Linhas tortuosas cobertas por garranchos insanos.
O tinteiro usado.

Minha existência foi grafada em cerdas vegetais.
Num cenário que em brasas se consome.
Os sete oceanos transpassados não poderiam a salvar.


Zu ewigkeit!

quarta-feira, 3 de fevereiro de 2010

Assolação

O médio planeta habitado gira em sua órbita.
Eu permaneço inerte nesta imensidão.
Não quero compreender sentimentos.

Os mares rebatem a aproximação da "porção seca" com suas ondas vorazes.
Eu o observo em tranquilidade e paz (na minha guerra interior).
É impossível não notar sua vibração.

O firmamento anuncia o Magestoso Astro a raiar.
A minha sina se reinicia sob o cantar dos pássaros.
É inútil tentar fugir de uma linha já dantes traçada.

As estrelas pontilham o céu.
Eu as admiro, são como jóias da Astro-mãe.
Sua beleza é inconfundível.

Os rios secam em seus leitos antes verdejantes.
Fui eu quem retirou a primeira árvore de lá.
O meu pecado faz mal a toda a humanidade.

As árvores padecem sob a insolação.
Fui eu quem provocou o desmate.
Minhas ações reverberam o que vai na minha vil alma.

As crianças choram sem um motivo.
Eu as engano sempre que sobrepõe-se a minha ironia.
São surdas, cegas e mudas, não se apercebem de nada.

A minha memória está fraca!
Sou uma sílfide que bebe o próprio veneno.
Num mar de sangue devo padecer.
Morte, doce alento que lenta e zombeteira me acerca!

terça-feira, 2 de fevereiro de 2010

Golden Leaves - Tradução

Ramos Dourados


Como uma mina de ouro
Meu coração é explorado
Após retirar todas as riquezas
Estou sozinho novamente

Imundície
Pobreza
Tudo está arruinando o órgão que bate no peito
E isso provoca dor
Mas eu luto para me manter sempre em pé
Mesmo chorando
Mesmo sofrendo

Há árvores ao meu redor
Caídas
Troncos Quebrados
Elas também choram e sentem uma enorme dor
Mas não se prostram
Usam a sua própria morte para renascer
Abrigam o que está sob seus ramos e suas folhas
Ela se torna uma fonte de vida para alguém

O retornar da esperança em meio a lágrimas
Amor
Paixão
Coragem e força

Solicitude não tão vista:
Eu sou um poeta grego!
Confrontado com o tridente de Netuno e espada de Hades
Me resta tempo para um desespero cruel que assola minha alma
Suicida
Corrida  mais fácil - sem maratona
Bobagem grande demais - não há sabedoria
Trata-se de mim - sempre!



Zu ewigkeit!