quinta-feira, 4 de fevereiro de 2010

O tinteiro...

Não pedi pra nascer.
Não quis sonhar.
Não desejei aprender a amar.

Apenas quisera ser igual.
Apenas quisera o experimento da entrega.
Apenas quisera sentir-me parte de um todo não divisível.

A solidão fora companheira de mais.
A vida insípida não se deixava passar.
O rancor guardado infundava a vivência.

Ansiava por companhias magistrais.
Ansiava pelo pulsar de um coração ardente.
Ansiava pelo perdão que não poderia ser doado.

A história não parecia ter fim.
Três supulcros se alinhavam descobertos.
Perdas que se assomavam ao dissabor vil da existência.

Esperava por paciência.
Esperava pelo fim de uma busca.
Esperava por encontrar um sentido real.

Hades!
Se'ol!
Ge'ena...

Animais em volúpia.
Desejos corpóreos.
Lar não alcançado.

A primeira página se abre.
A contra-capa tremula.
O "FIM" é divisível adiante.

Livro escrito na carne da pele.
Letras garrafais comoventes.
Vazio inerrante ao miserável e analfabeto ladrão.

Um livro em branco.
Uma rosa negra.
Um tinteiro transbordante.

Letras não fazem sentido ao iletrado.
Aromas não podem fazer diferença aos que não os sentem.
O tinteiro incólume.

Um depositário infiel do líquido que escreve meu destino.
Linhas tortuosas cobertas por garranchos insanos.
O tinteiro usado.

Minha existência foi grafada em cerdas vegetais.
Num cenário que em brasas se consome.
Os sete oceanos transpassados não poderiam a salvar.


Zu ewigkeit!

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