terça-feira, 26 de janeiro de 2010

Seoki - A cria.


   Pararam o carro em frente ao pequeno terminal de passageiros, a brisa do mar, o cheiro de peixe, as aves esvoaçantes que intentavam ganhar algum alimento, aqueles homens de pele escura, rostos magros, mãos grandes e pés descalços, com os torsos nus a brilharem sob um sol de mais de 35° e o vai e vem de pessoas era muito legal.
Seu irmão foi lhe mostrando as coisas:
   - Aquilo ali se chama trapiche. Os pescadores encostam o barco e descarregam o pescado que vai pra lá. Tá vendo?
   - Sim. Mas calma aí, como eles fazem pra içar os isopores? Isto tem mais de quatro metros de altura!
   - Ah, é! Só que eles retornam com a maré cheia, quando ela enche a água fica por aqui assim.
   Disse mostrando em uma pilastra do pequeno porto uns sulcos, provocados obviamente, pela força das águas.
   - Tem-se idéia de quantos pescadores há por aqui?
   - Acho que uns mil ou mais. A vila vive basicamente da pesca e do comércio do pescado.
   - Rola muito dinheiro então. Percebi que tem muitos caminhões saindo de próximo daquilo lá. O que funciona lá?
   - Onde?
   - Aquela casa verde alí, ó!
   - Ha ha ha ha, lá é o mercado do peixe. Quer ir lá? O cheiro é bem forte.
   - Vamos, não tem nada a perder né? Qualquer coisa a gente pula na água e sai limpinho. Água do mar tem propriedades terapêuticas e o melhor: tudo de graça!
   - Lá vem você com esta mania de saúde!
   - Mania?
   - É!
   Ao chegarem no Mercado ele põe a mão ao nariz.
   - Hei, não faz isto! Pode ser compreendido como ofensa. Deixa de frescura é só cheiro de peixe!
   - Claro que é! Mas tinha que ser tão forte?
   ...
   - Essa coisa é de verdade?
   - Claro que é, besta. Se chama Pescada Amarela e aquele outro é o Melro, dizem que pode chegar a 150 kg.
   - Legal, mas vamos sair daqui, está me embrulhando o estômago esse cheiro.
   - Ha hahahaha, dois "F"!
   - O que?
   - Fresco e fraquinho! hahahahahaha.
   - Dane-se, vamos sair daqui!
   Quando se aproximaram do meio fio, um que distante do forte cheiro do mercado ele se volta pra vala.
   - Que foi?
   - Olha, um cachorrinho!
   - Eu sei, vi ele aí. Coitado, vai morrer antes que amanheça.
   - Por que? Por que tu acha isto?
   - Já viu o tanto de urubus que sobrevoam aqui? Já viu o tanto de feridas que esse coitado tem? Ele nem pelos tem, só esse chumaço na cabeça, o resto é só ferimento!
   - Ele não vai morrer!
   Atravessou a rua em direção a um contâiner de lixo e sacou uma caixa de sapatos de lá.
   - Peraí, pirou? Deixa esse bicho aé. Ele fede. A mãe não vai querer esse bicho lá em casa!
   - Vamos ver!
   Pegou o bicho que mal podia abrir os olhos, com um pedaço de madeira que estava por alí e coloco no fundo da caixa de sapatos.
   O bicho era, realmente, muito feio! Tinha um chumaço de pelugem no alto da cabeça, as pontas da orelha e cauda dilacerados, as patas enormes certamente por inchaço e de todo o seu corpo corria um líquido pegajoso. O pobre animal sangrava em vida, abria a boca e mal conseguia ganir, pela dor que, aquele simples movimento estava lhe causando.

Continua...

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