quarta-feira, 10 de junho de 2009

Carta de um suicída

Parece que não teria coragem de fazer isso mesmo. É bem verdade que nunca havia pensado nesta hipótese. E, hipoteticamente falando, você nunca teria me deixado escolher isto. Mas, ao olhar pra esse apartamento vazio de tua presença, que marca todo e qualquer lugar e objeto que vejo, não tenho outra coisa a fazer, ademais, tenho 35 anos e já vivi muito! Pra que mais um pouco? O que vivi se fez suficiente!
Sabe? Quando estiveres a ler esta carta não estarei mais aqui, e se não a leres com certeza estarei sofrendo e talvez te fazendo o mesmo tanto.
Pensei tanto, repassei tudo que nos aconteceu nos últimos quatro dias e não me vejo sendo feliz de outra forma.
Me disseste que sou o estorvo da tua vida e que só te causo traumas recônditos. Acredito que não seja assim! Porque o mesmo tanto que faço por ti, recebo de volta em minha simplicidade de ser. Não sou nenhum ser perfeito, tive e tenho meus erros e minhas atitudes tolas. Mas porque sempre levas tudo ao pé da letra? Porque sempre tem que me demonstrar que tendo vivido alguns anos mais que tu eu deva estar sempre te consolando, te entendendo, te compreendendo e tu nunca o fazes por mim? Qual foi o meu erro desta vez? Diga, mas diga em bom som, para que eu ouça e compreenda, mais uma vez.
Estou cansado, a perseguição que há no exterior, agora passa-se ao meu interior. E o que fazer então? Me sentir abandonado? Me sentir frustrado por não ter te podido proporcionar aquilo que tu pensas ser a felicidade? - Tu nunca sequer se perguntou ou me perguntou o que sinto e entendo por felicidade. Acho que a concepção estaria muito à face. Mas pelo menos tu demonstrarias, uma vez, preocupado comigo, com o que sou e o que sinto, que sou importante.
Interessante é que sinto toda a vida em mim! Sinto tanta vontade de viver, mas viver pra ser meu! Sim, ser meu e de ninguém mais. Jamais serei objeto de outrém novamente. Só que, se continuar vivendo, não controlarei os meus impulsos mais carnais e voltarei à, como tu dizes, fazer outros sofrerem, simplesmente pelo fato de demonstrar-lhes tanto afeto e cobrar isto de volta.
Ninguém há como tu! Me dizias ainda ontem, então deixaremos uma lacuna no mundo! Se digo que sofro, o faço por aqueles que não me conhecerão. Não por ti ou por mim. Há em mim a certeza de que vivi muito ao teu lado, intensamente, agora chega! A vida que há em mim se esvai. Porque não consigo viver sozinho, e não quero isso pra mim. E na impossibilidade de ver outra pessoa comigo de bem com a vida. Me furto o direito de fazer com que outros sintam sensações tão horríveis quanto a cobrança de um sentimento que não seja recíproco e o qual não queiram ou não possam me dar.
A felicidade pulsa em todo o meu ser nesta última hora.
Adeus, amei-te, amo-te ainda, e amarei-te, agora, pela eternidade.

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