terça-feira, 28 de julho de 2009

Lamento


A criança está chorando.
E ninguém há que a acalente.
E não há nada que se prontificar.
As árvores não tem mais pássaros.
Ninguém há que ouça um som.
Não há ninguém que os possa devolver.
Os rios perderam a vida.
Sem ânimo por encontrarem o caminho para o mar.
E os peixes não nadam nas turvas águas da solidão.
As estrelas não brilham mais.
O céu deixou de ser observado.
Os namorados não são mais amantes.
E a criança ainda está chorando.
O Astro Rei corrompeu-se em força e brilho.
Seus raios ferem e matam.
Aos seus súditos castiga pela própria indolência.
A misteriosa magestade oceânica está em risco.
Não há aventureiros em seu reino.
E os que se aventuram morrem na praia.
O frescor da brisa não é mais suficiente.
O tempo desfrutável não importa mais.
A pressa aliou-se à perfeição.
E o cuidado foi deixado para trás.
Os carinhos não são compreendidos.
E o afeto driblou-se à frieza.
A criança, ainda assim, está chorando.
O choro reflete o riso que, perdido, se foi para sempre.
A esperança que faleceu em um feriado.
O que passou e não retorna.
A inocência manchada por gestos torpes e afeições enganosas.
Pela ausência inexplicavelmente sentida.
Pelo prazer que não ousa se sobrepor ao vazio.
A confiança rejeitada.
Verdade forjada no compreensão forçada.
Maledicência conjecturada por incertezas.
Gratidão trocada por uma "ninharia" de afagos vis.
A criança chora.
Ela não conhece o amor.
Ela sente dor.
Ela deseja inocentemente.
Sabe que seu choro será ouvido e abjetado.
Ainda assim ela chora, e continua assim, aqui, dentro de mim.

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