terça-feira, 20 de outubro de 2009

A arte milenar oriental de nada fazer (Jefferson Sato)

  

   Não importa todas as maravilhas criadas pela civilização humana ao longo dos anos. Desde a primeira lança até o computador que frita hambúrgueres, tira leite de vaca, luta boxe e ainda, pasme, armazena seus arquivos digitais. Também não importa a arquitetura, as pinturas, as esculturas, as músicas, a literatura e tudo que há de mais incrível e belo que já foi feito pelo homem. Absolutamente nada me impressiona mais do que uma pessoa fazendo nada. Na verdade, não há nada mais criativo do que fazer nada! Grande parte das mais fabulosas criações humanas, sejam elas tecnológicas, artísticas ou qualquer outra, surgiram porque alguém, em algum momento, morreu de tédio.
   Considero-me um bom ocioso. Quanto menos coisas tenho para fazer, melhor me sinto. Claro que o tédio cansa, mas ainda o considero muito melhor do que o estresse da correria, das datas de entrega de trabalhos, dos compromissos e outras coisas chatas do mundo moderno. Isso me lembra o ano de 2005, quando não estudava nem trabalhava. Sim, era um vagabundo assumido. E tenho que dizer: foi demais! Passei o ano inteiro com tédio, mas todo dia que acordava tarde e pensava: "não tenho dever nenhum para com a porcaria da sociedade". Sentia que ia explodir de alegria. Foi quando me dediquei a aprender guitarra, montei minha banda, escrevi músicas, conheci lugares aleatórios pela cidade, fiz amizades, aprendi coisas, testei coisas, me conheci melhor e por aí vai.
   Mas o que precisa ser entendido é que a arte de fazer nada não se limita simplesmente a... fazer nada. A questão é como fazer nada, porque "nada" é alguma coisa! Confuso? É o seguinte: ninguém fica estático por várias horas, isso é estupidez, então as pessoas normalmente fazem alguma coisa. Por exemplo: esses dias passei a tarde inteira e um pedaço da noite sentado em uma escada na avenida Paulista conversando. Foi a coisa mais legal que fiz e ainda vou fazer em muito tempo! Gosto muito de sentar e conversar durante horas sobre qualquer coisa em qualquer lugar, porque é quando você passa a limpo assuntos, se aproxima das pessoas, tem idéias e mais um monte de outras coisas. E nessas horas, quase sempre, a pessoa acompanhante vai apontar o dedo para um lado e dizer "quer descobrir o que tem lá?" E eu, pelo menos em 95% das vezes, digo "claro". Gosto muito de conhecer lugares, mesmo os que parecem mais banais.
   Em alguns dias durante as futuras férias, porque não vai dar para fazer em apenas um, quero sair com quem mais estiver disposto e visitar a última estação de todas as linhas do Metrô e dos trens da CPTM aqui em São Paulo só para ver o que tem lá e voltar. Vai ser muito chato, vou adorar isso! E vai virar uma lembrança muito boa! Quem sabe o que mais pode sair dessa aventura? É justamente essa pergunta que você tem que se fazer quando está entediado e procurando se ocupar. Desde que não quebre a integridade de seus valores, aceite qualquer proposta! Nunca subestime um programa, por mais chato ou bobo que possa parecer, porque pode ser exatamente o que você precisa e nem sabe.


Agradecimentos à Jefferson Sato, pela permissão para este post! Veja mais em: Jefferson Sato in Texto Livre.

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